CRÍTICA | “O Truque do Amor”: Entre Enganos e Sentimentos na Charmosa Nápoles
Uma comédia romântica leve que explora dilemas familiares e amor inesperado, mas tropeça em clichês e escolhas questionáveis.
O filme O Truque do Amor (Mica è Colpa Mia), dirigido por Umberto Riccioni Carteni e lançado em 2025, surge como uma comédia romântica de tons italianos, que combina temas clássicos do gênero com uma narrativa centrada na sobrevivência financeira e nas complexidades dos laços familiares. Sob uma premissa envolvente de engano e amor inesperado, a obra apresenta uma série de qualidades e falhas, ambas dignas de destaque em uma análise crítica.
Enredo, Temas e Tom
A trama segue dois irmãos, Vito (Antonio Folletto) e Antonello (Vincenzo Nemolato), afundados em dívidas e à beira de perder a casa de família em Nápoles. A solução proposta? Enganar Marina (Laura Adriani), herdeira de uma construtora, simulando ser filantropos para obter uma doação que os salvará. O plano, previsivelmente, toma um rumo inesperado quando o amor entra em cena. O tema central gira em torno da sobrevivência em meio a gentrificação, laços familiares e a desconstrução de ideais românticos superficiais.
Embora o enredo siga os clichês do gênero, como o trope “falsos amantes que se apaixonam de verdade”, a execução carece de originalidade e ousadia. O filme tropeça em abordagens moralmente questionáveis, como o uso de stalking (perseguição insistente) como artifício romântico, o que, apesar de ser mencionado de forma crítica dentro da história, não é o suficiente para justificar sua presença como elemento principal.
No campo das comédias românticas italianas, O Truque do Amor tenta seguir os passos de obras como Sob o Sol da Toscana (Under the Tuscan Sun) ou O Primeiro que Disse (Mine vaganti). Embora compartilhe o charme do cenário italiano, falta-lhe a profundidade emocional e a criatividade que esses títulos apresentaram. No entanto, fãs de romances leves que apreciam histórias situadas na Europa encontrarão aqui uma obra que, ao menos visualmente, satisfaz as expectativas.
Uma crítica válida ao filme é sua ambiguidade moral. A ideia de enganar alguém para obter benefícios financeiros pode ser controversa, especialmente quando isso é tratado como uma base para o romance principal. Embora o roteiro se esforce para redimir os personagens e suas ações, a mensagem moral não é completamente clara. Isso pode deixar o público dividido: alguns podem ver a trama como um simples conto de redenção, enquanto outros podem interpretar como uma romantização de atitudes duvidosas.
Atuação e Personagens
Antonio Folletto entrega um Vito vulnerável e empático, cuja luta para manter a guarda de seu filho pequeno, Napoleone, gera momentos de genuína emoção. Laura Adriani brilha como Marina, especialmente nas cenas que exploram sua paixão pela culinária, mas a química entre os protagonistas deixa a desejar em momentos-chave. A atuação de Vincenzo Nemolato, embora caricata, funciona como alívio cômico, mas não é suficiente para sustentar o humor em um roteiro inconsistente.
Os personagens, apesar de bem-intencionados, falham em se conectar profundamente com o público devido a um desenvolvimento superficial. A relação entre Vito e Marina, que deveria ser o coração da narrativa, se torna insossa devido à falta de momentos memoráveis que solidifiquem sua união.
Direção e Cinematografia
Para Umberto Riccioni Carteni, O Truque do Amor é uma entrada segura no gênero, mas que não define uma assinatura autoral marcante. Antonio Folletto e Laura Adriani mostram potencial para projetos maiores, especialmente se explorarem papéis com mais camadas emocionais.
A direção de Carteni segue um padrão genérico típico das produções originais da Netflix, com uma cinematografia que destaca as belezas de Nápoles, mas sem ousar em ângulos ou enquadramentos que realmente surpreendam. O cenário napolitano é, no entanto, um ponto alto, fornecendo uma autenticidade cultural que eleva algumas cenas.
Trilha Sonora e Ritmo
A trilha sonora, assinada por Emanuele Bossi, é discreta, com momentos pontuais de destaque, como a inclusão de músicas italianas tradicionais que dialogam com o cenário napolitano. No entanto, o ritmo do filme sofre com um início lento e um clímax apressado. A ausência de uma estrutura narrativa sólida, com tempo adequado para a resolução dos conflitos, prejudica a experiência geral.
Impacto Visual e Design de Produção
Nápoles não é apenas um cenário em O Truque do Amor; ela é um personagem silencioso que sustenta toda a atmosfera do filme. A cidade, com suas ruas históricas, praças movimentadas e vistas deslumbrantes do Mediterrâneo, oferece uma autenticidade vibrante que complementa a narrativa. A direção de arte captura habilmente tanto o lado pitoresco quanto o urbano da cidade, refletindo a dualidade dos protagonistas: de um lado, a luta para preservar a casa da família, e de outro, os ambientes mais luxuosos frequentados por Marina.
Esse contraste é também reforçado pelo design de produção, que destaca a decadência do lar dos irmãos protagonistas em oposição ao luxo dos espaços onde Marina transita. Essa escolha visual sublinha as diferenças socioeconômicas que permeiam a narrativa e dá profundidade ao conflito principal. Os figurinos, embora funcionais, não chegam a se destacar, enquanto a edição se mantém mediana, sem cortes ou transições particularmente criativas.
Apesar disso, o potencial cinematográfico de Nápoles poderia ter sido explorado de maneira mais ousada. A cidade oferece uma riqueza de contrastes – tradição versus modernidade, caos versus beleza – que poderiam ter adicionado camadas à narrativa. No entanto, como um todo, o cenário contribui significativamente para o tom do filme, trazendo um charme único que funciona como uma âncora emocional para os eventos da trama. Para os espectadores, Nápoles não é apenas um pano de fundo, mas uma janela para a essência da cultura italiana que permeia a história.
Conclusão
O impacto emocional de O Truque do Amor depende muito do espectador. Para aqueles que procuram uma história leve e descomplicada, o filme cumpre sua função, trazendo momentos de ternura e humor suave, especialmente nas cenas que exploram o amor pela culinária e a conexão familiar. No entanto, espectadores mais exigentes podem sentir uma desconexão emocional, já que a relação entre Vito e Marina carece de momentos significativos que justifiquem a intensidade do amor que a narrativa tenta vender.
Apesar de seu charme visual, especialmente ao destacar as paisagens de Nápoles, o filme tropeça em clichês excessivos e escolhas narrativas que flertam perigosamente com mensagens moralmente ambíguas. Para os fãs de romances leves e apaixonados pelo charme italiano, O Truque do Amor é uma escolha ideal para uma noite tranquila. Porém, não espere se apaixonar tanto pela história quanto o filme gostaria. Ele funciona como uma distração agradável, mas falha em se destacar como uma obra marcante dentro do gênero, deixando apenas um leve gosto de curiosidade pela cultura e pela culinária napolitana.
É um filme que, embora apresente uma proposta intrigante, carece de ousadia e profundidade para conquistar de verdade.
Nota: 6/10 ou 3/5
Avaliação Geral de O Truque do Amor
Enredo e Narrativa
Atuações
Direção e Cinematografia
Trilha Sonora
Ritmo e Edição
Nota Geral: 3/5
O Truque do Amor é uma comédia romântica que mistura enganos e emoções no charmoso cenário de Nápoles. Embora apresente momentos de charme e boas atuações, especialmente de Antonio Folletto e Laura Adriani, o filme tropeça em clichês e escolhas narrativas questionáveis. A falta de ousadia na direção e a química inconsistente entre os protagonistas impedem que a obra se destaque no gênero. Uma escolha leve para fãs de comédias românticas, mas que não inova ou emociona de forma marcante.