CRÍTICA | O Homem que Quer Viver para Sempre: Uma Reflexão Profunda Sobre o Legado e os Limites Humanos
Uma Jornada Entre a Ciência e a Humanidade na Busca pela Imortalidade
Chris Smith, conhecido por documentários aclamados como “A Máfia dos Tigres (Tiger King)” e “Fyre Festival: Fiasco no Caribe (Fyre)“, entrega em “O Homem que Quer Viver para Sempre (Don’t Die: The Man Who Wants to Live Forever)“ uma exploração envolvente sobre a obsessão moderna pela longevidade. Este documentário da Netflix, com 88 minutos, segue o milionário do setor tecnológico Bryan Johnson, que investe milhões anualmente no chamado Projeto Blueprint — uma tentativa meticulosa de desacelerar e até reverter os processos de envelhecimento.
A Premissa: Ciência ou Narcisismo?
Bryan Johnson, um ex-CEO que transformou seu sucesso financeiro em uma busca pela juventude eterna, é uma figura polarizadora. O filme mergulha em seu cotidiano rigorosamente cronometrado: 54 pílulas ao amanhecer, uma dieta vegana estritamente calculada, terapias experimentais e exercícios programados até o minuto. Sob o olhar atento do diretor, Johnson surge como um personagem multifacetado — parte visionário, parte prisioneiro de sua própria agenda.
No entanto, o documentário não se limita a capturar o fascínio pelo avanço científico. Ele também lança luz sobre as complexidades emocionais e os sacrifícios pessoais que sustentam essa jornada. Johnson, que frequentemente brinca sobre sua própria busca ser um “culto” para viver melhor, também enfrenta críticas ferozes — da comunidade científica e do público — sobre a validade e a ética de suas práticas.
Essas críticas não apenas colocam em questão os métodos de Johnson, mas também levantam um debate mais amplo sobre o impacto que essa obsessão pela longevidade pode ter na sociedade. Até que ponto recursos consideráveis devem ser direcionados para prolongar a vida de poucos enquanto tantos ainda enfrentam necessidades básicas? O filme desafia o espectador a refletir sobre as desigualdades sociais geradas por tais iniciativas.
Além disso, o retrato de Johnson como um homem preso em sua busca incessante provoca questionamentos sobre a felicidade. Será que a extensão da vida traz necessariamente mais qualidade ou apenas mais tempo para lidar com os mesmos desafios emocionais que todos enfrentam? A narrativa consegue capturar tanto o fascínio quanto a melancolia dessa missão quase quixotesca.
Narrativa e Direção: Entre o Introspectivo e o Questionador
Chris Smith constrói uma narrativa visual que alterna entre momentos profundamente pessoais e amplos questionamentos filosóficos. Arquivos históricos mostram um Bryan mais jovem, lutando contra depressão e tensões familiares. Momentos como o vínculo com seu filho Talmage, que se junta a ele no Blueprint, oferecem uma camada emocional surpreendente. Apesar da narrativa cativante, o documentário carece de uma investigação crítica mais incisiva. Muitos dos pressupostos de Johnson, como a confiabilidade de sua “idade biológica”, são apresentados sem um contraponto científico robusto.
Cinematografia e Produção
Visualmente, o documentário é um espetáculo bem orquestrado. A cinematografia combina paisagens serenas com close-ups clínicos dos rituais diários de Johnson. A trilha sonora, assinada por Nick Chuba, Matt Cohen e Leopold Ross, complementa perfeitamente o tom reflexivo e, por vezes, melancólico.
A equipe de edição, liderada por Daniel Koehler e Paul Trewartha, entrega um ritmo bem equilibrado. No entanto, certas sequências repetitivas sobre os hábitos de Johnson poderiam ter sido condensadas para manter o impacto narrativo.
Ciência e Ética: Uma Linha Tênue
O filme também aborda as controvérsias em torno do Projeto Blueprint. Cientistas entrevistados questionam a eficácia de combinar tantas práticas simultaneamente, dificultando a identificação do que realmente funciona. A inclusão de críticas — como a do professor de Harvard que descreve o projeto como “atenção, e não ciência” — adiciona uma camada de ceticismo necessária, embora o filme não explore completamente os impactos éticos e sociais das práticas de Johnson.
Ressonância Emocional e Reflexão Filosófica
O ponto alto do documentário é sua capacidade de provocar reflexões mais amplas sobre a mortalidade e o significado de uma vida bem vivida. A relação de Johnson com sua família, particularmente com seu filho, ilustra como a busca pela longevidade pode se tornar uma tentativa de reparar conexões quebradas ou solidificar laços antes que seja tarde demais. O momento em que Johnson admite: “Não quero apenas viver mais; quero viver mais com meu filho” humaniza sua busca, oferecendo ao público uma rara conexão emocional.
Conclusão
“O Homem que Quer Viver para Sempre” é um retrato fascinante e controverso de um homem obcecado pela ideia de transcender os limites humanos. Embora falhe em abordar criticamente algumas das implicações éticas mais profundas, a produção compensa com uma narrativa visual envolvente e momentos de vulnerabilidade que tornam Bryan Johnson um personagem tão inspirador quanto polarizador.
Mais do que um estudo sobre longevidade, este documentário convida o público a questionar o que realmente significa viver plenamente. Afinal, a busca pela imortalidade é uma celebração da vida ou um reflexo do medo de perdê-la?
Nota Final: 8/10 ou 4/5
Avaliação Geral de O Homem que Quer Viver para Sempre
Roteiro
Direção
Atuação e Personagens
Cinematografia
Trilha Sonora
Ritmo e Edição
Impacto Emocional
Originalidade
Nota Geral: 4/5
"O Homem que Quer Viver para Sempre" é um documentário instigante que explora a busca de Bryan Johnson pela longevidade, revelando os sacrifícios, as controvérsias e as implicações emocionais por trás dessa jornada. Com direção de Chris Smith, o filme apresenta uma narrativa envolvente, mas carece de maior profundidade crítica em relação às práticas científicas e éticas do protagonista. Uma obra que provoca reflexões sobre o significado da mortalidade e o que realmente vale a pena na vida.